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José Napoleão é, além de um grande artista, um excelente contador de casos, como todo bom mineiro. Talvez por isso, quando pedimos para entrevistá-lo, Napoleão se prontificou imediatamente, mas deixou claro que só conversaria pessoalmente. Não por arrogância, longe disso, mas por carregar dentro de si, mesmo depois de muito tempo vivendo na capital das Minas Gerais, o espírito do interior, onde nasceu, e acreditar que uma boa conversa, para fluir com naturalidade, precisa do contato, do olho no olho.

O objetivo da entrevista era conhecer um pouco melhor a história do artista e as suas principais referências, para contá-la em nosso blog no dia do lançamento do produto especial feito por ele para os 10 anos da PdD. A conversa, no entanto, tomou rumos surpreendentes e se transformou em um delicioso bate-papo, repleto de histórias e lições de vida.

Logo de cara, a primeira surpresa. Napoleão é daquelas pessoas de talento artístico tão natural que demorou muito para perceber o real valor de seu trabalho. Ele carrega consigo a convicção de que todo mundo tem dentro de si todas as artes. Manifestar ou não, depende do contexto da vida.

No caso dele, por exemplo, a arte se manifestou por necessidade. Quando pequeno, vivia em um contexto de dificuldades financeiras. Queria ter os brinquedos que via na mão de outras crianças, mas não podia comprá-los. Entendeu que para brincar, precisaria fazê-los. E foi exatamente o que fez.

Sua primeira lembrança de manifestação artista efetiva é ainda mais curiosa. Nascido em Pará de Minas, Napoleão foi criado em BH, mas passava boa parte do ano contando os dias para voltar para sua terra natal e visitar a casa da avó. Certa vez, quando tinha entre três e quatro anos de idade, em uma dessas visitas, encontrou a casa recém pintada de branco, um cuidado da vó para receber o neto e a família.

Aquelas paredes se apresentaram como um convite para o menino criativo e curioso, como telas pedindo desenhos. Napoleão então pegou um pedaço de carvão, subiu no fogão e começou a desenhar por toda a casa. O resultado: “Tomei uns bons cascudos, claro, mas desde aquele dia, faço questão de cultivar o olhar do menino”.

Olhar que até hoje move toda a sua criação. Curioso e observador, quer aprender a fazer tudo por conta própria, usando a cabeça e as mãos. “Tudo em nossa volta são ideias. Ideias que partem do invisível para o visível. Meu trabalho é observar, entender como as coisas são feitas para reproduzi-las segundo o meu próprio olhar. Sou apaixonado pelo belo. Se vejo algo belo, quero imediatamente tentar reproduzir. Erro muitas vezes mas, de fracasso em fracasso, acabo chegando no resultado que quero”.

A trajetória profissional de Napoleão não foi das mais simples. Por não reconhecer o próprio talento, ou melhor, por acreditar que o talento e aptidão para as artes é algo inerente a todo e qualquer ser humano, Napoleão demorou muito para dar valor às suas criações. “O que vinha de graça, pra mim, não tinha valor”.

Por isso, antes de se tornar artista, seguiu inúmeros outros caminhos. Foi dono de serralheria (onde fazia as próprias ferramentas de trabalho), trabalhou em marmoraria, depósito de materiais de construção, etc, etc, etc… Em cada lugar pelo qual passava, aproveitava as horas vagas para fazer suas peças em algum cantinho.

“Fazia e não as mostrava para ninguém”, reforça ele! Passou grande parte da sua vida escondendo o próprio trabalho. E quando por acaso, alguém se deparava com suas peças, as frases eram sempre as mesmas: “Napoleão, você está desperdiçado”.

A história só começou a mudar quando a sua esposa indicou um livro com modelagens em massinha do também artista Marcelo Xavier, atualmente, um de seus melhores amigos. Na época, Napoleão fazia esculturas com as massinhas que os filhos levavam para a casa. “Tem um livro aqui de um cara que faz as mesmas coisas que você”, disse a esposa. Movido pela curiosidade, Napoleão resolveu ir atrás de Marcelo. Descobriu uma oficina realizada por ele no Morro do Papagaio, pegou as suas coisas e foi. Se apresentou sem nenhuma timidez, auxiliou Marcelo na oficina e combinou de visitar o ateliê do artista.

Na visita, pouco tempo depois, conheceu Mônica Meyer, que viu seu trabalho meio que por acaso, se encantou e sugeriu que ele fizesse algumas oficinas. Na época, Napoleão demorou a entender do que se tratava, mas pela primeira vez, percebeu que seu trabalho tinha sim um grande valor. A primeira oficina organizada por Mônica durou aproximadamente duas horas, com uma média de vinte pessoas participantes. Dali em diante, a carreira artística finalmente foi abraçada por Napoleão.

Ainda assim, mais de 20 anos depois, Napoleão faz questão de reforçar: “O talento não é meu, é de todo mundo”. E quando perguntado como se define profissionalmente, ele diz: “Me defino como um fazedor de presentes. Não para mim, mas para as pessoas darem umas para as outras”.

Aos elogios feitos ao seu trabalho, a resposta dele também surpreende: “A gente coloca nas coisas, as cores que tem por dentro”. Para nossa alegria, a vida conseguiu mostrar para Napoleão seu próprio talento e hoje, ele nos brinda com as lindas cores que carrega dentro de si.

Relação com a PdD e o produto especial dos 10 anos

A relação de Napoleão com a PdD é longa e a nossa admiração pelo trabalho e carisma dele é imensa. Por isso, ele foi um dos primeiros artistas convidados para produzir uma peça que celebrasse os 10 anos da loja, um produto especial. Na hora de escolher, Napoleão não pensou duas vezes… decidiu transformar em escultura a nossa árvore e o nosso banquinho.

“A identificação entre o banquinho e a Patrícia são imediatas. O banquinho sempre me remete ao interior, um ponto de encontro, de bate-papo, de contato entre as pessoas, de beleza e simplicidade. Um espaço de confidências e inconfidências mineiras…”

Abaixo, você confere o resultado do lindo trabalho de Napoleão. As peças fazem parte do nosso acervo e estarão disponíveis para venda tão logo retomemos as nossas rotinas.