“Hoje Amanheci Brumadinho”
Ao acordar,
ouvi um grito.
Depois de observar
vi que esse grito era meu,
e era também seu.
Por isso, era nosso.
Ontem, engasgada com o choro me distrai com tudo um pouco para não me sucumbir às angústias dos últimos acontecimentos:
Rezei, li livros, encontrei pessoas queridas, tomei um vinho.
Mas hoje ouvi um grito!
E ao escutar o grito,
percebi que estava represando emoções antigas e
emoções doídas. Enxerguei-me represa.
Foi então que lágrimas transbordaram em minha face… Lágrimas de luto,
Lágrimas de indignação,
Lágrimas de dor.
E me lembrei de um amigo dizendo:
“Se a gente represa o choro, de vez em quando a barragem estoura e nossas multidões internas sofrem. Melhor chorar todo dia um pouco, e não esquecer de olhar para os lados, e para a noite… nós só sabemos o que é uma estrela porque a noite é escura.”
Hoje amanheci Brumadinho
( Sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grata)
Texto da sensível poetisa Júlia Rena | Ilustração: Anna Cunha