“Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e voltar sempre inteira”. A estação que começou ontem foi outra, o outono, mas a frase de Cecília Meireles não poderia ser mais apropriada ao momento.
Afinal, a querida árvore que protegia e acolhia com o seu verde e a sua sombra os passantes da rua Fernandes Tourinho, os frequentadores do Banquinho PdD, as bordadeiras, os artistas e escritores, as meninas e meninos da Sympla, os nossos amigos e clientes do Oop café, foi excessivamente podada, fora do tempo e sem nenhuma necessidade. Ela não estava condenada, muito pelo contrário. Era sempre tão bem cuidada pelo Sr. Ivai.
Em sua sombra, incontáveis histórias e momentos de alegria. Diversos encontros, sorrisos, conversas, eventos, bordados. Ganhamos inclusive o prêmio gentileza urbana pelo aconchego que a combinação de sua sombra e o nosso banquinho proporcionava a todos.
Infelizmente, vivemos, enquanto sociedade, um período de desconexão, desencontro e egoísmo. O que aconteceu ontem foi apenas um exemplo, dentre tantos outros. Ordens unilaterais tomadas por pessoas que não se sensibilizam com o bem-estar coletivo, sendo cumpridas sem nenhum tipo de consulta à população e sem considerar o bem estar das pessoas. Nós, que convivemos diariamente com a árvore, ficamos completamente desolados. Os responsáveis por mandar cortá-la, muito provavelmente, seguirão indiferentes em seus escritórios.
Mas felizmente, assim como Cecília Meireles, nós temos a capacidade de olhar para frente e voltarmos inteiras e mais fortes. Daremos a volta por cima. Vamos cuidar de nossa árvore, fazer um curativo, adubá-la e vê-la crescer novamente. Seguiremos na luta por uma vida mais suave, gentil e feliz. Com mais árvores, mais sombras, mais banquinhos, mais sorriso, mais tempo para encontros ao acaso e mais amor.