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Hoje é dia de retomar uma das nossas tradições preferidas do mês de janeiro aqui no blog PdD! Publicar a lista de indicações de livros para ler em 2022, da querida livreira Simone Pessoa, da tradicional Livraria Ouvidor.

Em 2021, por causa da pandemia, fomos forçadas a interromper a sequência de indicações de Simone, que desde 2018 nos presenteia com dicas maravilhosas de leitura. (Confira aqui as listas de 2018, 2019 e 2020).

Esse ano, com todos os devidos cuidados, visitamos a Livraria na Savassi, batemos um delicioso papo com a livreira e recebemos 10 maravilhosas indicações para compartilhar com você.

Confira abaixo os livros e suas respectivas sinopses oficiais.

OS SABIÁS DA CRÔNICA

(AUGUSTO MASSI)

Sinopse: Esta antologia é um convite à leitura de textos que resistiram à passagem do tempo. Além de reunir seis mestres da crônica, do lírico Rubem Braga ao rebelde José Carlos Oliveira, projeta um olhar inteiramente novo sobre a cultura brasileira. As noventa crônicas que compõem o volume formam um riquíssimo painel dos anos 1930 até a virada do século XXI: é o retrato de toda uma época.

Os sabiás da crônica celebra a força da amizade. E se engana quem pensa que a trama coletiva apaga o traço pessoal dos cronistas – pelo contrário, eles surgem aqui de corpo inteiro. O roteiro sentimental parte de cada cidade natal até desembarcar no Rio de Janeiro na década de 1940.

O saber literário se mistura então ao sabor das experiências cotidianas: a roda viva de bairros e bares, as conversas sobre música e cinema, as receitas de feijoada, a poesia do futebol, tudo decantado numa prosa crítica e bem-humorada.

LUZES DE NITERÓI

(MARCELLO QUINTANILHA)

Sinopse: Depois de tantos prêmios e a aclamação internacional, Marcello Quintanilha volta agora à cidade onde nasceu e cresceu, Niterói. Ele mergulha nas águas da Baía da Guanabara e traz de lá uma trama baseada em fatos reais, acontecidos nos anos 1950. Uma aventura cheia de suspense, que envolve pescadores, futebol, a vedete Luz del Fuego e o primeiro campo naturista do Brasil. Ao mesmo tempo, uma formidável história de amizade e um retrato do Brasil dos anos 1950.

Luzes de Niterói vale especialmente pela aventura humana e marítima vivida por seus protagonistas, Hélcio e Noel, numa verve tragicômica digna do cinema de Dino Risi, e que revela uma enorme e pungente amizade.

SUL DA FRONTEIRA, OESTE DO SOL

(HARUKI MURAKAMI)

Sinopse: Em Sul da fronteira, oeste do sol — uma das obras mais aclamadas de Haruki Murakami —, o autor constrói uma história singela, mas potente, para falar do poder que as memórias e o desejo exercem sobre nós. Nascido em 1951 em um subúrbio de Tóquio, Hajime chegou à meia-idade tendo conquistado tudo que queria. Os anos do pós-guerra trouxeram-lhe um bom casamento, duas filhas e uma carreira invejável como proprietário de dois clubes de jazz. No entanto, ele não consegue se desvencilhar da sensação incômoda de que nada daquilo traz felicidade para sua vida. Somada a isso, uma memória de infância de uma garota inteligente e solitária cresce em seu coração.

Quando essa colega do passado, Shimamoto, aparece em uma noite chuvosa, Hajime não consegue mais permanecer no cotidiano com o qual se acostumou. Shimamoto tem uma beleza de tirar o fôlego, mas guarda um segredo do qual não consegue escapar. Em Sul da fronteira, oeste do sol, Murakami constrói uma narrativa de lirismo requintado sobre a simplicidade da vida de um homem, permeada por sucessos e decepções.

BAIXO ESPLENDOR

(MARÇAL AQUINO)

Sinopse: O retorno de Marçal Aquino à cena literária, dezesseis anos depois do sucesso de “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”. O ano é 1973, um dos períodos mais duros da ditadura militar no Brasil. É num ambiente contaminado pela paranoia que se move Miguel, um agente do setor de Inteligência da polícia civil cuja especialidade é se infiltrar em quadrilhas sob investigação. Numa das operações, ele se aproxima de um grupo de ladrões de carga, tornando-se íntimo de Ingo, o chefe, que não só apadrinha sua entrada no bando como lhe apresenta a irmã, Nádia, com quem Miguel inicia um relacionamento que tem no sexo seu ponto de combustão.

Profissionalmente vaidoso, Miguel acredita que, na hora adequada, não terá dificuldades para romper os laços surgidos durante a operação. Mas as coisas não saem como ele imagina: apaixonado por Nádia, o policial se vê surpreendido por dúvidas sobre de que lado irá ficar quando o cerco se fechar sobre a quadrilha. Com uma prosa ágil e intensa, Aquino confirma seu nome entre os melhores da ficção brasileira contemporânea. O mundo do crime nunca foi tão sensual quanto em “Baixo Esplendor”.

PEDRO MAIRAL

(SALVATIERRA)

Sinopse: Em Salvatierra, um pintor mudo, humilde e autodidata, deixa aos filhos uma misteriosa obra de arte como herança: um imenso mural que ocupa quase quatro quilômetros de rolos de tecido, produzido em segredo até o dia de sua morte. Miguel, o filho mais novo, é o principal encarregado de tomar algumas providências em relação à inusitada obra: resgatá-la do armazém onde estava guardada (ou abandonada) e providenciar sua transferência para um museu holandês.

Começa então o trabalho de decifrar a obra. Ele se vê retratado em um dos pergaminhos quando pequeno, circunstância que lhe traz uma pequena — porém marcante — surpresa emocional, por não esperar tanta atenção do pai. E percebe que falta uma parte da obra, cuidadosamente datada. Decide assim ir em busca do que falta e, junto com o irmão Luis, descobre cenas reveladoras de um homem diferente daquele que os mais próximos julgavam conhecer.

Publicado originalmente em 2008, Salvatierra é um dos romances mais admirados do argentino Pedro Mairal. Com precisão, sobriedade e lirismo, o autor de A uruguaia explora sutilmente as ligações entre o passado e o presente, entre pais e filhos e entre vida e arte. Uma narrativa evocativa, e cheia de ressonâncias, sobre a verdadeira aventura que envolve o acesso ao mais íntimo daqueles que nos são próximos.

RISQUE ESTA PALAVRA

(ANA MARTINS MARQUES)

Sinopse:Novo livro de uma das vozes mais extraordinárias da poesia contemporânea. A poesia de Ana Martins Marques atesta que as palavras são capazes de tudo: de absorver o que está ao redor — na tentativa de compreender o mundo —, mas, sobretudo, de criar novos mundos. Em seus versos, que nascem da observação e da curiosidade, a linguagem às vezes serve para pensar. Outras vezes, as palavras são deixadas de lado e dão lugar a um “buraco/ cheio de silêncio”. E então a poeta conclui: “um poema não é mais/ do que uma pedra que grita”. Em Risque esta palavra, uma das vozes mais celebradas da literatura hoje cria uma espécie de inventário de experiências afetivas. Com clareza, inquietação e extrema habilidade, Ana Martins Marques mapeia os encontros e desencontros, a paixão e o luto, e prova que “quase só de palavras/ se faz o amor”.

POETA CHILENO

(ALEJANDRO ZAMBRA)

Sinopse: Declaração de amor à poesia e aos poetas e retorno de Alejandro Zambra ao romance, Poeta chileno é uma história encantadora sobre família, literatura e paternidade. O protagonista deste romance magnético, Gonzalo, é um aspirante a poeta e padrasto de Vicente, um menino viciado em comida de gatos, que mais tarde vai se recusar a ir à faculdade porque seu sonho é seguir os passos do pai postiço e se tornar também poeta (apesar dos conselhos de sua mãe orgulhosamente solitária, Carla, e de seu pai, León, um tipo duvidoso que se dedica a colecionar carros em miniatura).

O poderoso mito da poesia chilena — “somos bicampeões na Copa do Mundo de poesia”, diz um personagem, referindo-se aos Nobel conquistados por Gabriela Mistral e Pablo Neruda — é revisitado e questionado por Pru, uma jornalista estrangeira que se torna testemunha acidental deste áspero e intenso mundo de heróis e impostores literários. Poeta chileno, que confirma o nome de Zambra como um dos principais narradores do continente, é um romance apaixonante sobre poesia, sobre poetas que desprezam o romance, sobre a América Latina, sobre os labirintos da masculinidade contemporânea (as recalcitrantes, as novas, as que estão em transição), sobre os trágicos vaivéns do amor, sobre famílias modernas e fragmentadas, sobre o desejo de pertencimento e, sobretudo, sobre o sentido de ler e escrever no mundo atual.

VÉSPERA

(CARLA MADEIRA)

Sinopse: Novo romance da autora do fenômeno Tudo é rio, Véspera retoma a escrita brilhante e contagiante de Carla Madeira, que desperta todo tipo de emoção no leitor. Carla Madeira cria personagens que parecem estar vivos diante de nós. As emoções que sentem são palpáveis e suas reações, autênticas. Temos a sensação de conhecê-los de perto, inclusive as contradições e os pontos cegos. Tal virtude é evidente em seu livro de estreia e grande sucesso, Tudo é rio (2014), mas também no livro seguinte, A natureza da mordida (2018).

Os personagens de Véspera, este seu novo romance, possuem a mesma incrível força vital. Mas se em Tudo é rio Carla os criou com poucas pinceladas e traços incisivos, aqui, para delinear suas personalidades, ela opta por uma superposição de camadas psicológicas. Se antes eles primavam por temperamentos drásticos — capazes de extremos de paixão, ciúme, ódio e perdão —, aqui a estratégia gradativa de composição confere-lhes uma dose maior de mistério, sugerindo ao leitor antecipações que só aos poucos se confirmam, ou não. A força emocional continua existindo, porém está menos visível, o que deixa a atmosfera ainda mais carregada de suspense e tensão.

A narrativa começa com a pergunta: como se chega ao extremo? Vedina, uma mulher destroçada por um casamento marcado pelo desamor, em um momento de descontrole abandona seu filho e, imediatamente arrependida, volta para o lugar onde o deixou e não encontra quaisquer vestígios de sua presença. Este é o acontecimento nuclear da trama que expõe as entranhas de uma família – pai alcoólatra, mãe controladora, irmãos gêmeos tensionados pelas diferenças – que, como tantas outras famílias, torna-se um lugar onde as singularidades de cada um não são acolhidas, criando rachaduras por onde a violência se infiltra.

Contada em dois tempos, o dia do abandono e os dias que vieram antes dele, o romance avança como duas ondas até que elas se chocam e se iluminam. O leitor se vê diante de um espantoso presente que expõe o quanto a s palavras são capazes de inventar a verdade.

KNULP

(HERMANN HESSE)

Sinopse: As três histórias da vida do andarilho Knulp estão entre os textos mais encantadores de Hermann Hesse. Reunindo temas depois aprofundados nas obras de grande sucesso do escritor — a experiência existencial, a formação da personalidade, a contestação de velhos valores —, Knulp apresenta o herói poético que influenciaria autores tão diversos como Stefan Zweig e Jack Kerouac. Hippie avant la lettre em plena Alemanha do fim do século XIX, um jovem Knulp vagueia de cidade em cidade e se hospeda na casa de conhecidos, que lhe dão teto, comida e algum afeto. Ele evita, no entanto, construir relações mais profundas, estabelecer laços definitivos: é um amante da liberdade, uma espécie de esteta em fuga de um mundo crivado de imposições e crenças antiquadas. À medida que os anos passam, amigos o repreendem por ter desperdiçado seu talento e sua saúde com uma existência vadia, entregue à boemia e ao improviso.

O andarilho, ainda que debilitado, não lhes dá ouvidos e segue desfrutando dos prazeres mais simples, aferrado aos breves momentos de felicidade. Uma das mais belas construções literárias de Hermann Hesse, Knulp é um personagem também complexo, que duvida constantemente de suas próprias escolhas. Esse modo de vida marginal levaria Hesse a preconizar: “Se pessoas talentosas e corajosas como Knulp não conseguem encontrar um lugar em seu entorno, o entorno é tão cúmplice disso quanto o próprio Knulp”. Uma declaração que põe em xeque os padrões sociais daquele tempo — e da atualidade.

INVERNO EM SOKCHO

(ELISA SHUA DUSAPIN)

Sinopse: Sokcho é a paisagem imóvel, a folha em branco sobre a qual será desenhado inquietante relacionamento entre a recepcionista de uma pousada decadente e um cartunista francês, que chegara ao balneário em busca de inspiração. É inverno, e o frio desacelera tudo: as acomodações estão calmas, as ruas, vazias e úmidas e os mal-entendidos, suspensos. A tinta escorre sobre o papel, implacável.

Um vínculo frágil se estabelece entre esses dois seres de culturas tão distintas. Juntos, os dois partem em pequenas viagens de reconhecimento da paisagem desolada. À medida que se apresentam os traços desse encontro, revelam-se passados, comportamento se desejos, como obstáculos para o reconhecimento puro e simples. Este romance, delicado como neve sobre espuma, transporta o leitor para um universo de rara riqueza e originalidade, com uma atmosfera poderosa. Em seu premiado livro de estreia, Elisa Shua Dusapin apresenta ao leitor cenários e costumes de um lugar ao mesmo tempo estranho e familiar, como as pessoas. E personagens que merecem ser explorados, como os lugares.